quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Eu quero férias de mim!

Andar nas ruas sem o tráfego, acompanhar o movimento do vento. Não quero falar de incertezas, angústias e amor. Quero pensar na camada fina, a mais profunda me enlouquece e ela transpira insanidade. Não quero os olhos molhados, a cabeça explodindo e o pensamento em você. Fantasias percorrendo minhas veias. Quero encontrar as ruas vazias, quero pensar no meu cabelo e nas minhas unhas. Eu quero o óbvio, o patético, o predestinado. Eu quero a solução, a resposta, a saída. Não quero sentir o gosto do ser profundo e ilimitado! Eu sou um sigilo, uma porta trancada, as chaves estão num lugar muito alto e você busca encontrá-las, mas quando se aproxima, o sigilo esconde as palavras bem longe dali. Eu sou a busca do grito. O ser humano e o seu significado, signo, sigilo. Você está cansado, eu entendo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Lugar nenhum

Então
É isto
Tempo
Teria dito a você
Pedaço
Por pedaço
Até que a paz
Ecoasse

Ninguém
Nada
Nada
Ninguém
Podia fazer-me sentir
O modo que eu estou sentindo
Ninguém

Mãos
Deixe-me segurar você
Olhos
Deixe-me ver seu rosto
Sorria novamente
Como o mundo
Vá caindo

Existe
Em nenhuma parte
Eu prefiro gastar
Estes dias loucos preguiçosos
Então aqui
Em nenhuma parte



(Aqualung)

sábado, 1 de dezembro de 2007

FELIZ COTIDIANO


CORAÇÃO

Liz acordava com olhos grudados que pareciam não querer abrir. Mais um dia! Ela pensa. Com cabelos assanhados, se olha no espelho. Que cara de acabada. Cadê o café! Exclama para si mesma, como se alguém fosse responder com um sinal positivo. Porém, está só, quer dizer, está com seus pensamentos e esses eram ótimas companhias. Toma o café amargo com torradas e prepara-se para o banho, sua cabeça está longe da rotina. O mundo vive em seus pensamentos. A cabeça de outros, as decisões indecisas e as palavras arrependidas. O mundo é um pequeno detalhe, onde precisar respirar é difícil e requer longos espaços de tempo para voltar a respirar e prosseguir. Às vezes esse tempo era interminável. Quando olhar pra sua própria face era insuportável. O que é uma auto-estima? Quando o sentir é menosprezível e a vontade de viver encerra-se com a tentativa de respirar.

PÉS

Acordar, levantar e trabalhar. Tudo começa cedo e a hora é esmagada pelo tempo. Os jornais não podem parar de circular. Pauta 1, pauta 2, pauta 1000. Todos os dias eram preenchidos com informações e correrias em busca da “verdade”. Ah! Era tão bom ser jornalista! Poder viver os fatos e deixá-los percorrer pelas mãos, atingindo os dedos e fluir para o teclado. Letras, frases e matérias. Liz se arrepia só de pensar.


MÃOS

Escrever, pensar, pensar, escrever e imaginar. Sentir! Letras que se transformam em palavras que dão vida a uma opinião. Que bela expressão. Opinião! Perceber o mundo em volta e torná-lo perceptível a quem ler. Procurar detalhes minuciosos que transformam situações. Gestos, olhares, sorrisos. Ser sensível. Liz era sensível. Aos sentimentos dos outros, as situações, a lugares, a uma formiga que passa ao seu lado, ao por do sol, mas quem não é? Momentos que te fazem parar e refletir. Sentir-se anestesiado. Ela já tinha ouvido nas boas aulas de Estética que isso se denominava Flash Aesthesis.


CABEÇA

Liz era feliz em ser anestesiada e em saber que os olhos grudados e os cabelos assanhados iriam voltar no outro dia e no outro dia e no outro dia. Junto com o mais fantástico acontecimento de sua vida: o pensar.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A pequena


Hoje comprei um doce, mas não era simplesmente um doce, daqueles que ostentam beleza sem nenhum gosto. O meu doce tinha conteúdo, era uma mistura de chocolate ao leite com creme e para completar tinham um bombom em cima, engrandecendo sua gostosura. Não me aguentei, comecei a comê-lo no ônibus mesmo, indo para casa. Quando meus olhos se deliciavam com aquela pequena porção dos céus, uma garotinha entrou no coletivo. Ela era tão pequena que quase não aparecia no meio daquelas pessoas apressadas para chegarem ao seus destinos. Tão pequena e tão falante, começou a cantar para que sua altura não passasse despercebida por todos. Pedia dinheiro, umas moedinhas serviam. Ficou logo do meu lado e do doce. Ao falar, seus olhos estavam atentos para o público distraído, mas uma coisa lhe chamou a atenção. Era o doce. Ela não mais prestava atenção nos futuros ajudantes, somente no meu doce. Quando percebi a cena, já comecei a fechá-lo para poder entregá-la. Só seria mais um doce para mim. No momento que perguntei se ela queria, seus olhos se fixaram aos meus. Parecia não acreditar, agarrou aquele presente com toda sua pequena força. No espaço de poucos segundos, ela saiu correndo. Correu como se estivesse fugindo da morte. Com um brilho nos olhos, a pequena saiu do ônibus, com ele quase em movimento. Só consegui presenciar o sorriso estampado na pequena face e no meu rosto também.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A cada desencontro

Ah! Lá vem aquela criatura, passa por mim e ainda pronuncia meu nome. Mudou a expressão do rosto, ela está sorrindo!? Como pode? Depois de dizer para ele, que eu não serveria. Duvidou do que eu sou, ela nem me conhece, como ousa?
Sorrir e gesticula. Meus ouvidos fingem que escutam, meus olhos permanecem atentos aos dela, minha voz cala-se. Como ela consegue? A falsidade é um dom para poucos. De repente, sinto um vento frio, não é lá fora, é aqui dentro, meu coração está petrificado. A cada encontro, a cada desafio.
- Olá garota!
(Ah! realmente ela tem o dom)
- Olá.
Com ponto, sem exclamação.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Inconstância

As palavras ficam presas na garganta. Dor insuportável! Deixar você ir, seus passos são pesados e a cada passo, uma dor rasga meu peito. Você não ficou, saiu apressado e não ouviu meu choro de angústia, era medo, era receio. Estou perdida, desabafo minhas frustrações e você me abraça e transparece força. Preciso disso para continuar. Espero a sua verdade, ela vem e me machuca. Como você consegue enxergar cada detalhe do que eu sou? Dilema. Olho todos, as ruas são iguais, uma paisagem, um quadro faltando acabamento, faltou a cor. Preto e branco. 3X4. Falta um pedaço, a parte principal, falta a poesia, mas ela está em mim, quando não ultrapasso a minha calma. Ela está na beira e pode pular. Passos lentos. Ela errava tanto e queria uma máquina que lavasse seus erros. Que deixasse branco o vestido preto. Ela queria o sol, a noite ofuscava os seus olhos. Ela queria você, somente você.

domingo, 18 de novembro de 2007

1 ano



Será que te mudei durante este ano? Seu sorriso aberto ainda está lá, teu beijo provocante e teus olhos como uma presença me observam. Teu corpo é uma continuação do meu. Tua voz, Ah tua voz, grito da alma, desperta os desejos e anseios por tuas palavras. Teu cheiro, tua saliva, teus dedos, teu sentir. Toque no infinito, toque em mim. Acordei para ti e para mim. Amo-te.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Anos e Anos



A sensação muda
O ambiente se transforma
E eu aqui neste cantinho
escrevendo neste papel...
Esperando, atuando e, principalmente
sonhando.
Vai, acorda! Toma café, engole o choro e
Vive.
Amanhã, você escreve mais e risca
estas linhas tortas.


Minha fome = Minha vontade = Existência = Essência= Exagero=Hipérbole=Paixão

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Jornalismo

(Fatos reais)

O chefe: Não é possível! Vocês não conseguem entender que este site precisa de acessos.

Economista: Os acessos trazem patrocinadores.

Editora chefe: O problema está na nossa linha editorial, não concordo que toda vez que alguém morre na cidade, temos que mobilizar a redação toda. Cada jornalista tem sua especialidade. Temos que usar o potencial de cada profissional.

Editora de cultura: Concordo plenamente. Eu estava fazendo uma matéria cultural, quando tive que parar tudo, para ir atrás de um corpo.

O chefe: Não querendo desmerecer o seu trabalho, mas cultura, NÃO DÁ DINHEIRO. Enquanto temos mais de cem acessos com esse corpo, uma matéria cultural tem apenas cinco.

Editora chefe: mas, nós como comunicadores, temos que fazer o diferencial. Temos que apresentar um algo mais para a população.

O chefe: Mas, esse algo mais, NÃO PAGA O SEU SALÁRIO! Precisamos de dinheiro para manter o site.

Economista: Um site é feito por patrocinadores que exigem acessos.

O chefe: Por isso, vão atrás do morto, que é ele que paga o salário de vocês.

editor de política: Calma, veja o meu exemplo, fui cobrir um show, para o caderno de cultura, e esse evento acabou em pancadaria e até morte. Lógico que no final deu uma ótima matéria policial.

O economista: E tem que ter muita foto e vídeo com sangue.

O chefe: Se for assim, tudo bem!

Editora Chefe: o papel do comunicador não é esse, temos que MUDAR O MUNDO!

O chefe: Tenta mudar o mundo sem salário, tenta.

E o silencio toma a sala. Quem será que está certo?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Na casa


Diferenças e semelhanças fazem. Fazem-me. E para elas também. Entender o que está acontecendo na casa. Na casa cabem cinco, porém cinco mundos distintos que se cruzam e se repelem. Elas querem assim, eu quero de outro jeito. Guerra? Não. Silêncio. Infelizmente o silêncio é o melhor caminho. Portas trancadas para as palavras, mas não sou complexa, sou tão fácil. Às vezes, parece que me odeiam, pior, desprezam-me. 3 em 1. Uma solitária. Prefiro assim, a solidão dos meus pensamentos. Não julgo, não acho diferenças, mas a separação é compreensível.
2 de um lado e 1 no outro. E assim é mais fácil. Desculpe-me qualquer coisa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Mariana era diferente

- Mari, olha só que cabelo desarrumado o seu, amiga!

- A Mari é assim mesmo!

- Assim como? Alguém podia me explicar?

A Mariana não era igual e também não era única. Poderia ser diferente das amigas.

- Mari, olha que gatinho!

- É, pode ser...

Definitivamente, Mariana era diferente.

- Mari, você é infeliz?

- Acho que sim. Sou tão diferente. Não penso e não sinto igual a vocês. Quero mudar!

- Primeiro deixa este cabelo crescer, lixa estas unhas e usa um pouco de maquiagem!

Passam os dias e Mariana está igual.

- Feliz Mari?

- Estou! Procurei um psicólogo. O Dr. Viana, ele é um máximo!

- Ah! Agora sim, você vai ser igual à gente. Conta como é lá?

- Olha só, no próximo dia, irei mostrar meus poemas e falaremos sobre artes.

- E quando você vai mudar?

- Não sei, só sei que é muito legal e estou me identificando com tudo.

E o silêncio toma as amigas.

- Minha gente, vocês viram o filme com aquele ator lindo e maravilhoso?

- Ainda não! Vamos todas!

E Mariana não entendia, não era para ela ser normal, a terapia não estava funcionando.

- E lá vou eu, chegando atrasada. O Dr. Viana não vai perdoar.

- Mariana Alencar?

- Sim, sou eu.

- Você chegou muito atrasada, vai ter que esperar mais meia hora.

- Tudo bem.

- Nossa! Como aqui está frio, não gosto de frio. Muito prazer, meu nome é Laís, e o seu?

- Mariana, prazer. Você veio para o Dr. Viana?

- Sim, claro. Ele é ótimo! Hoje vou mostrar todos os meus contos

- Eu também! Só que poesias. Olha só.

- São muito boas. Posso ficar com algumas, quero colocar no meu blogger.

- Claro, aproveite e anota o endereço dele.

- Aqui está. Prazer Mariana.

- Prazer.

E a noite, ela entra no blogger e lá está a sua poesia. Toda orgulhosa, ler e reler tudo. E comenta, com uma admiração por aquela nova pessoa que conheceu.

- Mariana, você tem que ir para esta exposição, vai ter recital de poesias e bandas experimentais.

- Ah, vou sim, Laís, mas nunca fui a um lugar assim.

- Não há problemas, lá estarão meus amigos, vou apresentá-los.

- Alô Mariana. É a Lia. Tudo certo para o barzinho hoje, não é?

- Sabe o que é Lia, estou morrendo de sono.

- Não acredito Mari!

- É sim, deixa para a próxima.

- Mari, você vai adorar meus amigos, eles são excêntricos e divertidos. Boa Noite, galera! Esta é a Mariana.

- Olá! Pode sentar, aceita um copo de vinho?

- Claro que aceito.

Já passava da meia noite, Mariana não quis ir para casa. A noite estava perfeita. Conversa sobre livro, cinema e poesia. Mariana sorria e sorria.

- Vamos todos para o meu apartamento! Lá tem mais bebida!

Em um momento da noite, Mariana estava olhando para Laís. Seus olhos se cruzaram numa força que elas não saberiam explicar. As mãos encostadas e o impulso era o magnetismo de suas bocas. Era paixão. E, elas, logo descobriram.

- Mari, você está feliz?

Agora sim, Laís. Agora sim.

sábado, 27 de outubro de 2007

VIDA E OBRA DE ANA

(foto: Crianças na comunidade do lixão)


Ana esperava chegar à noite para poder dormir, não agüentava mais aqueles dias cansativos. Ela ia se escorar em qualquer lugar ali mesmo. Tinha um sono pesado como uma pedra, um caminhão passava por ali e ela dormia como um anjo. A noite era a hora mais calma do seu dia, podia deitar e pensar. Pensar muito não, isso a cansava mais do que qualquer trabalho.

Ao amanhecer juntava suas coisas e saia com um destino. Sabia que precisava chegar às 8 horas no serviço. 8h15! Está atrasada, não dormiu bem a noite passada, deve ter sido a chuva que caiu na noite anterior, para ela a chuva não era tão boa para dormir, como é para a maioria das pessoas. São 8h20mim e ela chegou já colocando o uniforme e iniciando a atividade. Era tudo muito mecânico: puxa daqui, dobra dali. As máquinas não paravam e ela tinha que seguir o ritmo delas. Rodava o mundo e Ana estava lá, puxando e dobrando. A hora do almoço era rápida, ela se calava com a boca de feijão e reiniciava tudo de novo até às 18 horas. A barriga chamava um pedaço de pão. Mas, já estava na hora de dormir novamente e assim terminava mais um dia.

Aos domingos, acordava mais disposta. Em um banheiro apertado se trocava e se embelezava num pedaço de espelho quebrado e enferrujado, o batom vermelho lhe dava força e alegria. Esperava o ônibus para finalmente ir à praia, pensava nela desde segunda, mas antes de chegar no ponto ia ao telefone público para ligar para Rua 13, estava na Rua 21 e tinha se encontrar com Luciana. Elas tinham marcado às 10 horas para poder aproveitar o sol até ele se pôr. Luciana era uma menina-mulher fogosa. Com cabelos amarelo ovo diretamente da farmácia onde o farmacêutico a paquerava.

Ana gostava de sair com ela porque não gostava muito de falar e Luciana falava pelas duas. A praia era uma aventura, da areia morna até o desejo pelo sorvete que passava ao lado, o gelo doado no posto substituía muito bem e matava o calor de 40 graus. Nesse dia, Luciana ia fazer companhia a Ana na Rua 21, ela estava com medo de dormir só, teve pesadelos na noite anterior.

Ao dormir, Ana se lembrava de seus pais, onde será que eles estavam, era o que ela queria saber, porém, isso não mais importava. Já tinha crescido, era independente. Naquela noite a Rua 21 estava tranqüila e Ana pode relaxar. Ela perguntou à amiga se ela estava com frio e com sinal positivo dela, Ana cobriu-a com um pedaço de papelão que estava ao seu lado. Viver e dormir nas ruas não era fácil, mas sempre tinha um pedaço de papelão a mais para os amigos.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Jornalismo X Literatura ou Jornalismo e Literatura


Por Estevão dos Anjos e Kassia Nobre

Objetivo X Evasivo. Impessoal X Metafórico. Denotativo X Conotativo. Literatura X Jornalismo. Os antagonismos marcaram presença na III Bienal do Livro, através da noite que o jornalista alagoano Luiz Gutemberg* prestigiou a festa literária. Jornalista e escritor, o conterrâneo conciliou e divergiu a frieza das páginas de jornal com a subjetividade literária. Empolgado, ele discursou para os presentes, deliciando-se ao confessar que a literatura liberta as frases frias do jornalismo. Gutemberg assegurou para todos, que um texto jornalístico carece da pulsação de uma obra literária e que fique bem claro isso, se não, o jornal de ontem, embrulhará peixe amanhã. Sejam feitas as suas palavras:

Jornalismo e Literatura são dois conceitos diferentes. Para o senhor, o que diferencia um do outro?

Um é sintético, o outro é disponível, um é analítico e o outro é objetivo, as diferenças são profundas na forma e no conteúdo. Grosseiramente, o jornalismo seria aquela informação que você passa sem filtro, já a literatura ou jornalismo literário, ou crônicas e tal, é você interpretando fenômenos com seus parâmetros e suas convicções ideológicas.

Como seria a interação entre o Jornalismo e a literatura?

Não existe, a literatura é uma coisa e o jornalismo é outra.

O Senhor fala que a literatura é um jornal que está para a eternidade e que ela preenche algumas lacunas deixadas pelos jornais. Porém, ela tem o mesmo papel de informação, clareza e comprometimento com a verdade, elementos vistos nos clássicos modelos do jornalismo?

O problema da verdade é a veracidade. Você pode dizer uma verdade absolutamente verdadeira, mas se você não torná-la verossímil, ninguém irá acreditar. Eu acho que a grande conclusão de jornalismo e literatura é que elas são expressões literárias, então você usa a gramática, a prosa, a língua e por isso as pessoas confundem as coisas, mas depois do Mcluhan, no século passado, onde ele estabeleceu nitidamente o território da mensagem e do meio e confundiu as duas por pura malandragem, nunca mais iremos discutir o problema.

No jornalismo brasileiro, há espaço para um jornalismo mais preocupado com a estética literária de um texto?

Eu acho que a tendência é essa. Os jornais estão cada vez mais bem escritos, cada vez mais sofisticados e principalmente maliciosos. Estão mais exigentes.

Qual experiência, dentro do jornalismo dito literário, que o senhor mais apreciou na sua carreira?

Eu acho que o Rubem Braga, que é o grande cronista brasileiro, o Joel Silveira, o Paulo França. Dentre os brasileiros, eu citaria esses.

*Luiz Gutemberg nasceu em Maceió, no ano de 1937, onde viveu até os 18 anos. Formado em Direito na Universidade Federal de Alagoas, é ex-professor do curso de Jornalismo da Universidade de Brasília. Publicou bibliografias de alguns senadores, como a de Pedro Simon. No teatro, Gutemberg escreveu as peças “Auto da Perseguição e Morte do Mateu”, “O homem que enganou o diabo...e ainda pediu troco”, “Auto da lapinha mágica” e o “Processo Crispim”.

sábado, 20 de outubro de 2007

Entrevista com Douglas Apratto


Diretamente da III Bienal...
Na tarde de abertura da III Bienal do Livro, os alagoanos puderam saborear as palavras de um grande ilustre conterrâneo. Douglas Apratto* acrescentou (e muito) a festa dos livros. Com um vasto conhecimento sobre a historia alagoana, ele contou um pouco, nesta entrevista, sobre o tema central do seu livro A tragédia do populismo.

Para o Sr, a figura que representou o populismo em Alagoas seria o presidente Muniz Falcão?

Sem dúvida, Muniz Falcão é a maior figura do populismo em Alagoas, diria que é o auge do populismo, embora, Silvestre Péricles também seria um governante com características muito forte do populismo e ainda no começo do século tivemos Fernandes Lima e Costa Rego com algumas execuções populistas e governos carismáticos. Porém, a figura de maior brilho e mais carisma é Sebastião Marinho Muniz Falcão.

O seu livro a Tragédia do Populismo apresenta Muniz Falcão como um político que foi mal compreendido pela elite da sociedade alagoana?

Sim, Muniz Falcão fazia parte de uma corrente que foi de encontro a todo aquele esquema que é tradicional da política, onde as forças hegemônicas eram as oligarquias ligadas à cana-de-açúcar e algumas do sertão. Ele efetivamente teve um governo muito convulsionado, que recebeu um enfrentamento constante e passou pela tragédia da assembléia em que houve um momento de violência institucional muito grande. Ele teve sua história aferroada pelos seus inimigos e teve seu governo considerado fraco e foi considerado uma figura que desmerecia a condição de governante. Contudo, esta não é a historia real, na verdade isso é o que a elite alagoana queria passar para posterioridade e que a suas idéias eram corretas e a de Muniz eram as erradas. No livro, eu procuro demonstrar que tudo isso é uma grande cortina de fumaça em torno do populismo de Alagoas e em torno da real posição de Muniz como um líder que representava a classe trabalhadora e que era contra a elite oligárquica. Ele foi estigmatizado, por isso eu diria que a historia do livro faz uma revisão do seu papel importante como um governo progressista, um governo democrático e que procurou está antenado com as transformações que o Brasil e o mundo passavam naquele momento.

O que o Sr. acha do termo populista ser usado como xingamento por alguns?

Hoje, a palavra é estigmatizada porque o populismo tem variantes efetivamente assistencialistas e nós temos, digamos assim, um neopopulismo que envereda por esse caminho. Na verdade ele tem varias matizes, tem o nacionalismo, tem o estatismo, tem um projeto mais de soberania nacional. Essa figura do populismo interpretada como um político retrógrado e que causa muitos males a população e o seu país, é bem verdade. Mas, se nós estudarmos um líder populista como Getúlio Vargas, vamos verificar um ganho da população desacistida com as conquistas que o populismo consegue implementar junto as camadas mais pobres.

O que o Sr. está achando da III Bienal do Livro?

Eu acho que é um refrigério para nós alagoanos, nesse clima de baixo astral que a gente vive de violência, de desemprego, de IDH muito negativo, eu acho que a gente tem aqui uma mostra que o alagoano e as instituições universitárias, comandadas pela Ufal, como também as outras instituições, como Cesmac, Fal, Fits, são capazes de grandes realizações. Estamos aqui todos reunidos em torno daquilo que é importante: o livro, a leitura, o saber, o humanismo, a aprendizagem . Eu vejo isso com muita alegria e é uma prova que nós, se estivermos reunidos com um projeto em comum, desenvolveremos o Estado.

* Douglas Apratto é historiador e professor da Universidade Federal de Alagoas. Já publicou as obras Capitalismo e ferrovias no Brasil, A metamorfose das Oligarquias, A tragédia do populismo, Capítulos da Historia do Brasil, entre outros.

(Matéria publicada no site alagoas agora)

III Bienal: A literatura está em festa!



A III Bienal Nacional e a I Internacional do Livro de Alagoas se apresentam no cenário alagoano e têm como desafio fazer por dez dias, 19 a 28 de outubro, os alagoanos respirarem literatura. A festa dos livros será no Centro de Convenções – Jaraguá, das 10h às 22h e terá a entrada franca. Ela contará com a presença de vários artistas da terra, como também, nomes nacionais. O chargista e cartunista Paulo Caruso é presença garantida. A Bienal é uma realização da Universidade Federal de Alagoas, através da editora da Universidade (Edufal).

Os entusiasmados organizadores estão apostando no sucesso do evento, o público previsto é de 100 mil pessoas, apesar do Estado de Alagoas apresentar o perfil de 78% de leitores que possuem no máximo, o 1º grau incompleto e o índice de analfabetismo de 36,28%. Mesmo assim, a Bienal pretende chamar a atenção de crianças em busca de livros coloridos aos estudiosos da literatura. Contará também, com a presença de 25 mil estudantes da rede de ensino pública e particular, com visitas monitoradas. Todas as tardes, quem comparecer ao Jaraguá, poderá participar de oficinas e mesas redondas e nas noites haverá palestras com personalidades literárias.

Com a programação bem abrangente, o evento garante desde oficinas de histórias em quadrinhos a discussões sobre a Educação Superior de Alagoas. Os bate-papos terão espaço reservado num café literário destinado ao público e autores. Essa é uma das apostas dos organizadores. Estudantes, professores e, principalmente, interessados na arte literária vão fazer da Bienal um evento único, e quem sabe inovador num Estado necessitado de atenção cultural. Informações adicionais podem ser encontradas no site http://www.edufal.com.br/bienal2007.

(Matéria publicada no site Alagoas Agora)