terça-feira, 16 de novembro de 2010

Não estão mais aqui

Narrativa da vida real sobre a doença de Alzheimer, confiram! Conheçam também um pouco mais sobre o Jornalismo Literário ou Narrativo

www.textovivo.com.br

ou

http://www.textovivo.com.br/detalhe.php?conteudo=fl20101112171507&category=reportagem

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Homem e o Rio


Ele não se movia. Parado ali permaneceu como uma pintura muda. O rosto marcava o percurso de um alagoano cansado. A pele queimada de um sol único e devastador traduzia os dias gastos no trabalho do seu dia-a-dia. Talvez não falasse mais. Apenas observava o passeio dos mais novos e daqueles que ainda tinham esperança. Olhava para o Rio logo adiante. Aquele que destruiu seus amanhãs, aquele que era a razão para o acordar. Como é vilão aquele que antes produzia vida. Agora só restou a morte. A água barrenta desafiou o homem cansado. E dele não teve pena. Batalha travada. Batalha perdida. Restava apenas à espera do descanso do seu inimigo.

sábado, 21 de agosto de 2010

edaduaS

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença

Clarice Lispector

sábado, 14 de agosto de 2010

No mundo do Alzheimer...

Ela me encarou com ar sério. Um olhar taciturno que me desafiou. Ao adentrar na sua confortável residência, as suas fotografias, insistemente, me seguiam. Evalda Rocha Carvalho, 79 anos, não gosta de sorrir para as fotos. As que estão espalhadas por sua casa, mostram a Evalda de antigamente que possui a mesma expressão da Evalda de hoje. As duas possuem um olhar profundo que até assusta quem o encara.
O meu encontro com Evalda aconteceu na cozinha. A faca usada para descascar uma laranja me intimidou. Concentrada na ação, não percebeu a minha presença. Pelo menos era o que eu acreditava. Estava errada. O seu olhar cruzou o meu para pedir que eu sentasse ao seu lado. Sentei e troquei poucas palavras com a dona da casa. Queria saber quem eu era e o que fazia com o seu marido. Lembrei que o esposo tinha me alertado o quanto aquela mulher era ciumenta. Respondi que fazia uma entrevista para a pós-graduação.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Espera um pouco, deixa respirar.


Pausa.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

HISTÓRIAS DE UMBUZEIRO



Santana do Ipanema - O pequeno de olhos azuis parou sua bicicleta em uma freada brusca que levantou poeira amarela para todos os lados. O seu olhar curioso apontou para um grupo de crianças singular embaixo de um pé de umbuzeiro. Mas o que elas faziam lá em uma tarde de forte calor no sertão alagoano? Lendo, ora essa. O que mais poderia ser? Aproveitavam uma deliciosa leitura de um livro com título bem sugestivo: “À sombra do umbuzeiro”.

O projeto Leitura no Sertão, que é desenvolvido pelo Swa Instituto e o Portal Maltanet*, parece árvore de sonhos brotando em uma terra seca. É a sétima vez que a árvore dá frutos e não apenas umbus-cajás ou umbuzada, em que a fruta é fervida verde com leite e açúcar. Por que o umbuzeiro? “Não houve um motivo específico, como o umbuzeiro é uma árvore tradicional do sertão, imaginamos como bom seria ler embaixo de sua sombra”, comenta José Malta Neto, um dos organizadores do projeto.

“À sombra do umbuzeiro” surgiu a partir das histórias de santanenses publicadas no portal Maltanet, no período de 2006 e 2007. E a leitura com a criançada nasceu porque, infelizmente, centenas de exemplares encalharam. Alegria para os pequenos que ganharam o projeto Leitura no Sertão.

- Todos vocês estão à vontade? Pergunta José Malta.
- Estamos. O coro de crianças responde.

E estavam mesmo. Algumas ainda apoiadas nos joelhos, outras com as pernas já esticadas em uma grande lona embaixo do umbuzeiro. Todas atentas ao que estava prestes a acontecer. A tarde de leitura se iniciava para os alunos da Escola Municipal de Educação Básica Vereador João Francisco Cavalcante, que fica lá no povoado São Felix, município de Santana do Ipanema.

Exemplares do livro “À sombra do umbuzeiro” foram distribuídos para as 40 crianças que cochichavam entre si. O que despertou mais curiosidade do garoto de pele queimada de sol, que já tinha largado a bicicleta, apanhado um umbu para comer e se aproximado do grupo de leitores. Sem ninguém perceber sua presença, ele escalou até um dos galhos do umbuzeiro e lá se posicionou. Mas que movimentação esquisita era aquela? Tentava desvendar.

A criançada, que tinha entre 11 a 15 anos, folheou o livro e encontrou muitas histórias escritas por santanenses natos ou naturalizados. Eram contos, poemas, crônicas e outras peças literárias. Os alunos teriam que ler em voz alta algumas delas. É assim que o projeto funciona, com uma leitura compartilhada entre crianças e adultos. Momento de tensão quando um rebanho tentou cruzar a cerca que separava as crianças da estrada de barro.

- Valei-me Nossa Senhora! Gritou uma professora.

Apenas um susto, nenhuma tragédia. Uma leitura em parte silenciosa, já que cada estudante falava baixinho para si trechos do livro, tomou o ambiente do sertão e o garoto em cima do umbuzeiro foi notado.

- Desce ai, vem se juntar com o resto do pessoal, disse José Malta.
O garoto acenou com a cabeça para o lado e para o outro.
- Mas se descer, você vai ganhar um livro. Você sabe ler?
E ele novamente balança a cabeça.
- Tudo bem, vai ganhar o livro mesmo assim.
E o garoto desceu do umbuzeiro, ganhou o livro, mas não se juntou ao grupo da leitura. Decidiu acompanhar no outro lado da cerca.

Religiosos, que nem quase todo santanense, o grupo formou uma grande roda e rezou a oração do Pai Nosso. E depois evocaram o hino da terra amada, que faz lembrar um poema de Gonçalves Dias. Emocionante para quem vem de fora é observar que todas as crianças sabiam de cor a canção.


Santana do Ipanema
Torrão querido pedacinho do meu Brasil
És a Rainha do Sertão Alagoano
Desta Pátria mãe gentil

Tua história enaltece nossa gente
Com bravura e amor-febril
Padre Francisco Correia e Martinho Vieira Rego
Pioneiros nesta terra varonil

Tua bandeira simboliza nossas cores
As tuas praças, este rio, nossos amores
O teu progresso eternamente a florescer
Sou sertanejo, Santanense até morrer!

Minha terra tem palmeiras
Nossos campos têm mais flores
Onde canta o sabiá

Nosso céu tem mais estrelas
Onde nuvens passageiras
Dão espaço ao luar

O teu passado de glória
Está vivo em nossa memória
Teus filhos hão de aprender

É mais forte o meu desejo de dizer
Sou sertanejo, Santanense até morrer!

Autor: Remi Bastos Silva

Chegara à hora da leitura. A primeira voluntária foi uma menina sorridente de trança no cabelo. Adaine gostava de ler e se destacava na escola por isso. E o poema escolhido veja a coincidência, tinha a temática parecida com o momento.

Recomeço
Levante-se! Bata a poeira.
Poeira da sua solidão
Você não está só nessa multidão!
A vida é bela e você não precisa ficar
Se consumindo com várias suposições,
Remoendo o passado
Levante-se! Bata essa poeira
Olhe de lado, e veja,
Ainda tem pessoas que sofrem.
Com sua Introspecção
Por que você está assim?
Levante-se! Bata a poeira!
Erga a cabeça!
Sinta o calor emanado do sol
Tire os sapatos, fique descalço,
Sinta as vibrações da terra
Ande, respire fundo, ande até cansar.
Agora sinta o pulsar do seu coração.
E reflita, foi apenas um tropeço.
Sem grandes conseqüências.
É passado, já passou!
Sinta que a vida é bela,
Sempre vale a pena recomeçar.
Autor: João Francisco das Chagas Neto – Dezembro/ 2003.


Adaine e seus colegas sentiam as vibrações da terra e o momento mágico perdurou. Lá no alto, forte e imponente, a Serra do Gugi era testemunha de um novo amanhã para aquelas crianças. O medo e a vergonha de errar alguma palavra ou expressão, não frearam o menino Mário, que escolheu a próxima leitura. O franzino recitou em voz alta mais um poema.

Depende de mim
Não sei se fico,
Não sei se vou, Não sei se paro
Aqui estou;
Devo ir?
Não posso ficar!
Devo seguir?
Não posso parar.
A vida é assim,
Assim é a vida,
Não posso esperar
A vida passar.
Vou prosseguir
No caminho correto,
Que caminho é este?
Não sei se estou perto!
Depende de mim
Isto estou certo.
Autor: Francisco de Assis Farias (Tamanquinho) em 23/08/98

Aplausos para o leitor! Agora, cada aluno leu um verso em voz alta, cantaram o poema alagoano. Algumas crianças da comunidade também acompanhavam a leitura. Dedos riscavam o papel. A voz narrativa de Wellington deu tonalidade ao próximo poema.


Rio Ipanema
Corre, oh! Rio Ipanema,
Entre pedregulhos e caminhos sinuosos.
Cerca tua cidade com teus últimos córregos de água salobra.
Faz de tuas viagens, intermináveis lamentos,
Para que teus filhos não joguem em ti,
Todos os teus enganos.
Daqueles banhos que nos destes,
Daquelas águas que saciaram nossa sede.
Reveste agora, nossa alma de complacência,
Para que sejamos menos infames,
Ao tirar tua pureza.
Rio Ipanema, os silvícolas do passado que tanto te reverenciaram;
Faz com que nós, agora menos civilizados,
Salvemos o teu leito ferido.
Rio é feito de enchentes e de vazios,
Que ao adormeceres ao canto das rãs e das luzes dos vaga-lumes,
Ao acordares, foges pra bem longe,
Para que não vejamos teu martírio.
Continuas a nos embalar com os teus ruídos das grandes cheias
e que tua intermitência aplaine nosso corações.

Histórias engraçadas arrancaram risadas dos pequenos leitores. Narrativas reais, como a de um tradicional programa de violeiros.

Garoto Pesado
Tradicional programa de violeiros, Rádio Correio do Sertão. Lá estavam dois grandes repentistas, João Paraibano e Zé de Almeida. Nisso assistente de programa, Zé Locutor, chega e entrega uma mota para ser lida naquele instante por algum da dupla. Seu João que está logo na frente pega o bilhete e logo inicia a leitura. Um pouco desatento, começa, “Está desaparecido um Garoto, com uma pinta na testa, pesando aproximadamente, oito arroubas”, ai arregala os olhos e alterando a voz, diz, “ISSO NÃO É UM GAROTO, ISSO É UM GARROTE”.
Autor: Sérgio Soares de Campos

O sol ameaçava se despedir do céu, quando todos deram um até logo ao umbuzeiro e retornaram à escola. Cachorro quente e coca-cola foram servidos para celebrar a festa no sertão. E que venham as sombras de outros umbuzeiros, juazeiros e quixabeiras.
*http://www.maltanet.com.br/
Fotos / Rodolpho Ornitz

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Planos para 2010, parte 2

"Aguçar a escuta poética, despoluir a consciência, captar ressonâncias transcendentes e se deixar contaminar pelas vozes inconscientes"
Cremilda Medina

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Diz aí, por que você escreve?

"Para mim não existe diferença entre a literatura e a vida. A literatura foi o caminho que eu encontrei para enfrentar essa bela tarefa de viver"
Ariano Suassuna

"Posso dizer sem exagero, sem fazer fita, que não sou propriamente um escritor. Sou uma pessoa que gosta de escrever, que conseguiu talvez exprimir algumas de suas inquietações, seus problemas íntimos, que os projetou no papel, fazendo uma espécie de psicanálise dos pobres, sem divã, sem nada. Mesmo porque não havia analista no meu tempo, em Minas"
Carlos Drummond de Andrade

"Eu tive desde a infância várias vocações que me chamavam ardentemente. Uma das vocações era escrever. E não sei por que foi essa que segui. Talvez porque para as outras vocações eu precisaria de um longo aprendizado, enquanto que para escrever o aprendizado é a própria vida se vivendo em nós e ao redor de nós. É que não sei estudar. E, para escrever, o único estudo é mesmo escrever"
Clarice Lispector

"Eu escrevo para deixar emergir bóias nesse mar revolto, marcações que depois poderão perder o sentido, mas que enquanto estiverem ali poderão ser referências úteis. Escrevo para me convencer"
Daniel Piza

"Escrevo para salvar a alma"
Fernando Pessoa

"Para que meus amigos me amem mais"
Gabriel García Márquez

"Sei lá! Com efeito, se me escapa o retrato moral de minha mulher, para que serve esta narrativa? Para nada, mas sou forçado a escrever"
Graciliano Ramos

"É muito difícil escrever. Lembro-me de uma observação de Goethe que diz que nós somos seres coletivos. O escritor é aquele que fala pelos que não falam, que canta pelos que não cantam, que não têm até, num certo sentido, biografia pessoal. É muito difícil eu dizer isso porque desde a infância eu queria ser escritor; então, talvez, eu admitisse que escrevo por uma espécie de afirmação pessoal. Se eu não escrevesse não me sentiria vivo, não me sentiria existindo. A única explicação que me ocorre é que escrevo para ser, para sentir que existo. É aquela história: escrevo, logo existo. Uma resposta meio cartesiana"
Lêdo Ivo

"Creio que o objetivo é a própria escrita. Escrever é realizar um desejo que é forte. Como eu já disse, é uma fatalidade, uma vocação. O ato de escrever é um ato que me realiza, independente se o trabalho tenha ou não tenha sucesso: não me interessa mais isso. Escrevendo, eu me realizo"
Lygia Fagundes Telles

"Minha relação com as palavras é órgástica. Escrevo porque preciso ter relações com elas para viver em paz. Depois que uso uma palavra nova, ela me beija. Quer dizer que gostou de mim. Eu sou de bem com as palavras que uso porque elas me são"
Manoel de Barros

"Não sou escritor, nem nunca tive vocação para escrever. Sou jornalista, sempre escrevi por necessidade minha vida inteira"
Millôr Fernandes

"Escrevo para não apodrecer. E porque, além de sofrimento, me dá uma grande alegria, como talvez nada mais me dê"
Nilton Resende

"Sou um escritor essencialmente horizontal. Não posso pensar mais do que quando estou encostado, com um cigarro nos lábios e uma xícara de café ao alcance da mão. A xícara de café pode ser trocada por um copo de vodka, não há por que ser maníaco. Não uso maquina de escrever, redijo à mão, com lápis. Trabalho quatro horas por dia durante quatro meses por ano. Sou um estilista: me preocupa mais onde colocar uma vírgula que ganhar o prêmio Nobel"
Truman Capote

Ouvi de uma sábia senhora que o ato de escrever não era tão fácil, como alguns imaginavam. Não era apenas sentir a palavra simplesmente transbordar da memória ou do agora. Não eram as rimas pobres que faziam um belo poema. Refleti então que não escrevo. Apenas sinto. Sentir para mim é mais fácil. Por isso, para aqueles que sentem, apresento mais uma companheira.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Impressão, primeira

“A vida inteira espremida numa mala de mão"....

...tentaria levar o mundo na mochila jeans escuro. Poucos dias e já se identificou com os sotaques diferentes do seu. Era tudo muito bonito, o cenário dos seus sonhos: poluição sonora e visual na cidade que nunca dorme. A paisagem da janela brotava prédios cor cinza que combinavam perfeitamente com o céu. Sempre parecia que ia chover naquela cidade, mas o guarda-chuva não era um dos acessórios na mala pequena. Não se preocupou, até porque não saiu muito naquele primeiro dia. Um medo esquisito confrontava com a liberdade do dia anterior. Decidiu espiar apenas pela janela aquele pedaço de mundo que não era seu. Ganhar o mundo não fazia parte dos seus planos. Diferente do planejado quando criança. Alguma coisa tinha mudado. Chorou ao lembrar-se do mar cor de céu azul. Límpido e transparente. Lembrava então do poeta das aulas de literatura: “Minha terra tem palmeiras,onde canta o Sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá".

terça-feira, 23 de março de 2010

Planos para 2010

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É carnaval

Confetes e serpentinas no ar. A nossa música faz sentido agora. É carnaval, meu bem. O amor pede passagem e a dor desfila nas ladeiras. A música desafinou. Solte o corpo agora! Saiba que o amanhã é pura folia dentro de mim.