domingo, 20 de maio de 2012

"Não se trata apenas de narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira" CL

terça-feira, 20 de março de 2012

"Quando acordava não sabia mais quem era. [...] Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o papel do ser"

"Durante o dia eu faço, como todos, gestos despercebidos por mim mesmo. Quanto a mim, só me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato. Para que escrevo? E eu sei? Sei não..."

CL

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Na piscina com dona Iraci

Não tem para ninguém quando dona Iraci entra na piscina. A sua disposição só não é maior que seu sorriso que combina com o maiô e o batom vermelho. Todos sabiam, menos eu, que dona Iraci é uma campeã. Carrega no peito as incontáveis medalhas e o mérito é a irreverência. “No máximo, temos um empate, sempre com a presença dela”, alerta o professor. Porém, o potencial da senhora que aparenta menos que a idade é uma certa malícia no olhar. “Aproveita, Iraci, aproveita”. E dona Iraci balança o quadril e a cabeça do lado para o outro ao som de “Volta pra casa, sua safada. Volta pra casa, sua safada”. Ela adora. Após a dancinha provocante, ela brinca com o nada inocente macarrão e diz “Todas nós precisamos de um macarrão”. Eu abro um sorriso e todos gargalham. A Iraci transformou a piscina. Todos na cama com dona Iraci.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O almoço

Sentiu uma voraz vontade de puxar os fios de cabelo que de tão negros lembravam o que se via no escuro.
-Parece que está doente, menina.
Não estava e não respondeu a crítica da irmã mais velha.
Concentrava-se em uma ação maior. O puxar dos seus cabelos que de tão negros lembravam o fechar dos olhos e, por isso, a sua morte e que se ela continuasse daquele jeito não tardaria.
Enfim.
Puxou os cabelos.
- Ele virá hoje lhe visitar?
- Não, só amanhã. Vem almoçar comigo.
- Hum. Vou preparar um cozido. Ele gosta, não?
- Acho que sim. Não lembro. Tanto faz.
- O cozido então. Com brócolis e queijo.
Poderia ser da minha carne, que tal? Não faço questão. Afinal, ele comeu o meu coração, o que seria do resto? Não se lembrava do gosto de seu eterno amigo. Ele vem para se despedir e ela odeia despedida. Ele daria um beijo na testa e um até logo. Afinal, os dois iriam morrer um dia e aquela hora não tardaria.
- Você acredita que nos encontraremos após a nossa morte?
- Quem? Você e eu?
- Pode ser, na verdade: eu e ele.
- Sim, vocês sim. São almas gêmeas.
- Não acredito nisso.
- Ora, mas vocês são. Certo que vocês irão se encontrar.
-Estarei com meu vestido azul bordado que ele tanto gosta. De meus cabelos, farei uma trança para que ele possa sentir o meu perfume bem de leve ao me abraçar. Não usarei maquiagem. Afinal, para quê se ele verá meu rosto para a eternidade. Terei que ser eu mesma.
- Poderia vesti-lo amanhã. Ele ficaria feliz.
- Não. Apenas para o encontro definitivo. Haverá de ser especial. Amanhã é apenas mais uma despedida sem importância.
- Ele falou o motivo da viagem?
- Não. Não perguntei. Apenas disse que o esperava para o almoço.
-Hum.

....

Não há silêncio maior que o silêncio dele. Não há dor maior que sua ausência. Ele não veio ao almoço. Ele não pretende se despedir. Afinal, esqueceu o que meu am...amizade significa. Talvez, ligasse hoje mesmo para se desculpar. Ignoraria seus lamentos e lhe desejaria uma ótima viagem.
O telefone toca.
- Já sei. É ele. Demore para atender. Não quero que pense que estou esperando porque não estou. Ora, atenda logo!

No outro dia, o vestido azul bordado foi retirado do armário para um fim. O fim que a morte garante aos vivos. Ela sabia que após o descansar dele, o seu não tardaria e se vestiu para esperar o momento.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Lua cheia

Deixou seus planos ao se distrair com o céu que anunciava a lua cheia. Não sabia suas lendas e histórias, mas sentia arrepios ao contemplá-la naquele momento. Verdade seja dita: nunca mais seria a mesma depois daquele luar. A sua solidão era maior que a da lua, como falou uma vez o poeta. Com pesar, aceitou suas palavras e sorriu. A dúvida do instante era por que brilhava tanto aquele ser lá no céu? A dúvida era por que precisava ir embora, assim como a lua daqui algumas horas? Era o sol que pedia passagem para outro dia amanhecer e, quem sabe, deixaria brilhar.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Tempo

Tempo, tens tua teimosia taciturna.
Tempo, tens tua tirania.
Tua taquicardia traz tempestade.
Tempo, tua temporalidade trouxe temporal.
Temporais dentro de mim...

domingo, 13 de novembro de 2011

Você está em um déjà vu! Abra os olhos e sinta! Disse-me, lançando um olhar furioso.
Antes de retornar à realidade, preciso organizar aqui dentro para que eu faça sentido novamente. Será que você me entende? Pude sentir o seu coração quebrando aos poucos, mas ele não se movia e continuava:
Você está em um déjà vu!
Eu sei que estou me repetindo. Dando voltas..parada no mesmo ponto de partida. Será que você me entende? Tentei de novo e pensei alto:
O amor é sem sentido mesmo, quem é você para compreender?
Volta e começa tudo de novo. Deu a ordem.