sábado, 20 de outubro de 2007

Entrevista com Douglas Apratto


Diretamente da III Bienal...
Na tarde de abertura da III Bienal do Livro, os alagoanos puderam saborear as palavras de um grande ilustre conterrâneo. Douglas Apratto* acrescentou (e muito) a festa dos livros. Com um vasto conhecimento sobre a historia alagoana, ele contou um pouco, nesta entrevista, sobre o tema central do seu livro A tragédia do populismo.

Para o Sr, a figura que representou o populismo em Alagoas seria o presidente Muniz Falcão?

Sem dúvida, Muniz Falcão é a maior figura do populismo em Alagoas, diria que é o auge do populismo, embora, Silvestre Péricles também seria um governante com características muito forte do populismo e ainda no começo do século tivemos Fernandes Lima e Costa Rego com algumas execuções populistas e governos carismáticos. Porém, a figura de maior brilho e mais carisma é Sebastião Marinho Muniz Falcão.

O seu livro a Tragédia do Populismo apresenta Muniz Falcão como um político que foi mal compreendido pela elite da sociedade alagoana?

Sim, Muniz Falcão fazia parte de uma corrente que foi de encontro a todo aquele esquema que é tradicional da política, onde as forças hegemônicas eram as oligarquias ligadas à cana-de-açúcar e algumas do sertão. Ele efetivamente teve um governo muito convulsionado, que recebeu um enfrentamento constante e passou pela tragédia da assembléia em que houve um momento de violência institucional muito grande. Ele teve sua história aferroada pelos seus inimigos e teve seu governo considerado fraco e foi considerado uma figura que desmerecia a condição de governante. Contudo, esta não é a historia real, na verdade isso é o que a elite alagoana queria passar para posterioridade e que a suas idéias eram corretas e a de Muniz eram as erradas. No livro, eu procuro demonstrar que tudo isso é uma grande cortina de fumaça em torno do populismo de Alagoas e em torno da real posição de Muniz como um líder que representava a classe trabalhadora e que era contra a elite oligárquica. Ele foi estigmatizado, por isso eu diria que a historia do livro faz uma revisão do seu papel importante como um governo progressista, um governo democrático e que procurou está antenado com as transformações que o Brasil e o mundo passavam naquele momento.

O que o Sr. acha do termo populista ser usado como xingamento por alguns?

Hoje, a palavra é estigmatizada porque o populismo tem variantes efetivamente assistencialistas e nós temos, digamos assim, um neopopulismo que envereda por esse caminho. Na verdade ele tem varias matizes, tem o nacionalismo, tem o estatismo, tem um projeto mais de soberania nacional. Essa figura do populismo interpretada como um político retrógrado e que causa muitos males a população e o seu país, é bem verdade. Mas, se nós estudarmos um líder populista como Getúlio Vargas, vamos verificar um ganho da população desacistida com as conquistas que o populismo consegue implementar junto as camadas mais pobres.

O que o Sr. está achando da III Bienal do Livro?

Eu acho que é um refrigério para nós alagoanos, nesse clima de baixo astral que a gente vive de violência, de desemprego, de IDH muito negativo, eu acho que a gente tem aqui uma mostra que o alagoano e as instituições universitárias, comandadas pela Ufal, como também as outras instituições, como Cesmac, Fal, Fits, são capazes de grandes realizações. Estamos aqui todos reunidos em torno daquilo que é importante: o livro, a leitura, o saber, o humanismo, a aprendizagem . Eu vejo isso com muita alegria e é uma prova que nós, se estivermos reunidos com um projeto em comum, desenvolveremos o Estado.

* Douglas Apratto é historiador e professor da Universidade Federal de Alagoas. Já publicou as obras Capitalismo e ferrovias no Brasil, A metamorfose das Oligarquias, A tragédia do populismo, Capítulos da Historia do Brasil, entre outros.

(Matéria publicada no site alagoas agora)

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