Diretamente da III Bienal...
Na tarde de abertura da III Bienal do Livro, os alagoanos puderam saborear as palavras de um grande ilustre conterrâneo. Douglas Apratto* acrescentou (e muito) a festa dos livros. Com um vasto conhecimento sobre a historia alagoana, ele contou um pouco, nesta entrevista, sobre o tema central do seu livro A tragédia do populismo.
Para o Sr, a figura que representou o populismo em Alagoas seria o presidente Muniz Falcão?
Sem dúvida, Muniz Falcão é a maior figura do populismo em Alagoas, diria que é o auge do populismo, embora, Silvestre Péricles também seria um governante com características muito forte do populismo e ainda no começo do século tivemos Fernandes Lima e Costa Rego com algumas execuções populistas e governos carismáticos. Porém, a figura de maior brilho e mais carisma é Sebastião Marinho Muniz Falcão.
O seu livro a Tragédia do Populismo apresenta Muniz Falcão como um político que foi mal compreendido pela elite da sociedade alagoana?
Sim, Muniz Falcão fazia parte de uma corrente que foi de encontro a todo aquele esquema que é tradicional da política, onde as forças hegemônicas eram as oligarquias ligadas à cana-de-açúcar e algumas do sertão. Ele efetivamente teve um governo muito convulsionado, que recebeu um enfrentamento constante e passou pela tragédia da assembléia em que houve um momento de violência institucional muito grande. Ele teve sua história aferroada pelos seus inimigos e teve seu governo considerado fraco e foi considerado uma figura que desmerecia a condição de governante. Contudo, esta não é a historia real, na verdade isso é o que a elite alagoana queria passar para posterioridade e que a suas idéias eram corretas e a de Muniz eram as erradas. No livro, eu procuro demonstrar que tudo isso é uma grande cortina de fumaça em torno do populismo de Alagoas e em torno da real posição de Muniz como um líder que representava a classe trabalhadora e que era contra a elite oligárquica. Ele foi estigmatizado, por isso eu diria que a historia do livro faz uma revisão do seu papel importante como um governo progressista, um governo democrático e que procurou está antenado com as transformações que o Brasil e o mundo passavam naquele momento.
O que o Sr. acha do termo populista ser usado como xingamento por alguns?
Hoje, a palavra é estigmatizada porque o populismo tem variantes efetivamente assistencialistas e nós temos, digamos assim, um neopopulismo que envereda por esse caminho. Na verdade ele tem varias matizes, tem o nacionalismo, tem o estatismo, tem um projeto mais de soberania nacional. Essa figura do populismo interpretada como um político retrógrado e que causa muitos males a população e o seu país, é bem verdade. Mas, se nós estudarmos um líder populista como Getúlio Vargas, vamos verificar um ganho da população desacistida com as conquistas que o populismo consegue implementar junto as camadas mais pobres.
O que o Sr. está achando da III Bienal do Livro?
Eu acho que é um refrigério para nós alagoanos, nesse clima de baixo astral que a gente vive de violência, de desemprego, de IDH muito negativo, eu acho que a gente tem aqui uma mostra que o alagoano e as instituições universitárias, comandadas pela Ufal, como também as outras instituições, como Cesmac, Fal, Fits, são capazes de grandes realizações. Estamos aqui todos reunidos em torno daquilo que é importante: o livro, a leitura, o saber, o humanismo, a aprendizagem . Eu vejo isso com muita alegria e é uma prova que nós, se estivermos reunidos com um projeto em comum, desenvolveremos o Estado.
* Douglas Apratto é historiador e professor da Universidade Federal de Alagoas. Já publicou as obras Capitalismo e ferrovias no Brasil, A metamorfose das Oligarquias, A tragédia do populismo, Capítulos da Historia do Brasil, entre outros.
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