"Quase sempre a lápis em pedaços esparsos de papel, seguindo o curso aleatório de meus devaneios ou de minhas caminhadas" "O narrador é um ser feito de palavras, não de carne e osso, como os autores tendem a ser"
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Solitárias
terça-feira, 25 de novembro de 2008
No anverso do poema
Anverso: silêncio no branco do papel.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
domingo, 16 de novembro de 2008
Dólar
Alguns minutos após a nossa chegada, Vandete, um pouco mais relaxada, relatou o trágico dia 20 de maio deste ano. Era manhã, Josuel acordou e, como de costume, foi logo encher as garrafas de água para sua irmã. Já na hora do almoço, Vandete estranhou o sumiço do irmão e foi procurá-lo. "Encontrei o Dólar sentado em baixo de um pé de pau tomando cachaça. Ai eu disse para ele: ‘Oh Dólar, vamos para casa’, e ele abaixou a cabeça". Dólar não voltou para casa, foi até a roça de um vizinho e ingeriu meio litro de um agrotóxico muito utilizado por trabalhadores rurais da região para o controle de pragas, o Tamaron.
Dólar foi carregado num carro de mão pelos vizinhos até a casa dele e de Vandete. Os amigos da família arranjaram um carro e o levaram para a Unidade de Emergência em Arapiraca, mas não teve jeito. "O doutor falou que ele tomou veneno demais". Luisa conta que estava em casa, arrumando a cozinha, quando soube da morte de seu irmão pela rádio da cidade. Ao achar a foto 3X4 de Dólar, que estava escondida na gaveta da sala, Vandete se emocionou. Ela disse que mantinha a fotografia longe de seus olhos para evitar a saudade e uma dor grande no peito. "Quando nossa mãe morreu, eu não tinha nem dez anos, a Luísa foi morar em Palmeira dos Índios e eu continuei aqui para cuidar dele como um filho". Dólar era um jovem bonito, os olhos castanhos claros chamavam atenção na única lembrança que restou para a família. "Ele era o mais bonito", disse Luisa, que não entendia porque o jovem ainda não tinha uma namorada. "Ele era muito tímido", respondeu Vandete. A família Sena era composta por onze irmãos, onde Dólar era o caçula. Ele foi o sétimo a morrer, só restaram quatro.
As irmãs não esconderam que o adolescente era o xodó da família, todos o adoravam. Dólar estudava, tinha amigos e gostava de assistir à televisão deitado no sofá, adorava desenhos, era uma criança grande "Ele era um menino muito bom e trabalhador, limpava o mato na roça para conseguir dinheiro, ganhava um real e dividia comigo", lembrou Vandete. Josuel conheceu de perto casos de suicídios na sua família, dois de seus primos se mataram. "Ele (Josuel) era criança, mas se lembra das mortes". O pai de Dólar, Antonio Pedro Rufino de Sena, é alcoólatra e não tinha um bom relacionamento com os filhos. Aos 15 anos, Dólar, em uma discussão, furou o olho do pai, que estava bêbado, com um pedaço de madeira. Por isso, o estudante passou onze dias preso. Luísa acredita que a presença problemática do pai pode ter feito Dólar pensar na morte. “Ele ficava revoltado com as atitudes do pai, foi culpa do nosso pai a morte do Dólar. O pai não era uma pessoa boa, bebia muito”, desabafou. Ouvindo a irmã, Vandete permaneceu calada e apenas disse. “Não foi culpa do pai não. Foi culpa de ninguém, ele fez isso porque estava bêbado. Não sabia o que estava fazendo. E eu acho que ele tomou o veneno pensando que não ia morrer”.
Dólar reclamava do ócio daquele lugar. Foi assim com os três jovens que se mataram ano passado, João Henrique, Vinícius e Thiago e, infelizmente, poderá acontecer com qualquer jovem, inclusive com o irmão de Dólar, José, 19 anos. “Qualquer dia eu faço pior”.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Achado
.....
Na procura da busca achou a palavra escrita.
Olha,
Devo falar com o seu olhar e dizer poemas disfarçados de bom dia!
Devo perguntar como ele está, será que dormiu bem esta noite e como foi o seu dia.
Devo esperar pelas respostas sem perguntas?
Não, não devo.
sábado, 25 de outubro de 2008
Olha,
Seu olhar que devora e ao mesmo tempo acolhe.
Entre palavras desconhecidas, entre (im)particularidades.
Olhar precisão e com um quê de imaginário.
Desconheço a intensidade, se dele faço parte, se nele há o meu suplemento.
Desconheço nele o que já não sei, o que não procuro, o que não direi.
Guardarei seu olhar num livro, numa música, no meu olhar. Guardarei.
Quando o tempo passar, ao me procurar, terá resquícios daquele que nunca me pertenceu, pois era,desde o início, seu.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Máquina de escrever
domingo, 7 de setembro de 2008
Vista do alto
terça-feira, 26 de agosto de 2008
A personificação do eu, do nosso (desabafo)
É evidente a personificação do eu subjetivo, aquele cheio de sentimentos e sem nenhuma regra, nenhuma imposição. Poderia ser algo mais satisfatório? E essa concretização é paradoxal, assim como a nossa sociedade. Assim como os ouvintes, aqueles que são donos das narrativas.
Declaro-me motivada a seguir estes caminhos. A culpa deve ser da minha mãe, uma contadora de histórias que me ensinou desde cedo a importância do livro. Ou é daquele sentimento de decepção com a realidade jornalística da minha região. Talvez um desejo de acrescentar, inovar e - quem sabe - transformar o que tanto observo.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Grunhido
-Viva aquilo que não entendo! Viva aquilo que não vivo! Viva o que não me representa!
E todos olhavam surpresos.
Lá de cima do palanque, o grunhido não foi ouvido.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Aquilo que me preenche
Quando criança, a mãe lhe deu uma caixa grande e colorida. Poderia guardar aquilo que não deveria ir embora. Guardou a felicidade. Não poderia abrir, a felicidade sumiria com o soprar do vento. Vento insano! Um instante, a caixa foi aberta rapidamente, mas que importância tem um instante? Olhou o escuro. A felicidade era escura. Os olhos amargurados perceberam que a felicidade era o vazio. Gritou para os cantos e para o vento ingrato! “A felicidade é efêmera! A felicidade é banal!” Nunca mais volte felicidade fugaz!
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Num espaço
Jurava querer o que todos queriam, jurava baixinho, só para ela, mas não queria jurar. Queria lê todos os livros e assim saberia que poderia saber, assim, sem querer. Mas querer, ela não queria. Jurava que não.
Não, ela não jurava. Apenas queria pouca coisa. Era justo. Coisa só dela. Ali, onde era vazio, seria só dela.
O vazio poderia completá-la, só o vazio. Que era só dela e não de ninguém. Assim poderia jurar. Jurar para ela o que seria só dela:
O vazio.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
VIDA DE SURURU
Ponto de vista sobre a obra de Graciliano Ramos: Angústia
Cruzando a Praça dos Martírios, surge à angústia de Luís da Silva, personagem de Graciliano Ramos num romance de linguagem densa e existencialista. O personagem vive a devanear o desejo de uma mulher, ao mesmo tempo em que sobrevive ao purgatório que é sua existência. Luís da Silva poderia ser o retrato da classe média alagoana da década de 30: servidor público, que vive a pedir emprestado cruzeiros para os amigos. Homem que fala mal do governo ao mesmo tempo o serve.
A vida seguia normal, casa- repartição pública - trabalho no jornal - leitura de romances efêmeros. Tudo seguia a ordem, até reconhecer Marina. Ar, mar, rima arma, ira, amar. A vizinha mexeu-lhe os nervos e assim ela está presente nas primeiras páginas do romance, como nos pensamentos carnais de Luís da Silva, já que não se pode falar de amor.
Luís da Silva não casou com Marina, então a loucura transpareceu o personagem, o mundo é o imaginativo de seus pensamentos, nada mais é real. Fatos se misturam com devaneios, mas é fato que sua amada o traiu e a partir deste ponto, que ele obcecado, mata seu rival, aquele que seduziu sua mulher. Lembranças de personagens da sua infância confundem-se com os do presente. Seus medos, fraquezas, sangue, ódio e morte, tudo toma o pensamento de Luís da Silva. O personagem já não mais vive. "vida de sururu. Estúpida".
Ao ler as 227 páginas de Angústia, o leitor sente-se literalmente angustiado. Todo o peso escuro e grosso do coração do personagem é passado para aquele que o acompanha, aqui está uma leitora que teve pesadelos com as letras e frases sujas de piche.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Mistura de bolo
Pintura infantil, desconexa. Atrás do lógico, há incoerência.
Mentira desvairada, mimese platônica.
Postura irregular, caráter duvidoso.
Mistura e colhe.
Dá cria aquilo que pretendes.
Grita fundo, áspero e particular.
Era o eu poético, eram pedaços de mim.
Insolúvel: água no óleo.
Súbita sensação, vontade vulnerável.
Dada, nua, completamente eu, SER.
Soluto complexo-compacto.
Assar bem.
E nada mais.
sexta-feira, 28 de março de 2008
Solidão dois em um
Ali, no escuro, poderia sentir o toque dos seus dedos percorrendo o corpo encolhido.
Sem palavras, entregava-se ao silêncio. Ao abrir os olhos, admirava-se com as pupilas cor de mel.
Poderia deixar tudo para depois, nada mais importava, só aquele balançar de cílios.
Vestia-se em comoção, em toda a sua vida enxuta, esperou aquele momento. Encharcada, sentia-se transparente.
Com os pés apoiados nos dele, calmamente, tentaram prosseguir, e foram ao chão.
Olhava-se no espelho e via uma alma branca e pura, uma alma.
Esperou um instante..
Ao se dá conta que estava só, chorou mais uma vez...
quinta-feira, 6 de março de 2008
A passagem
Eu ainda não sou humana. Traduzo um estranho sentimento, que poderia ser chamado de dor ou principio da morte. Ao adormecer, os olhos continuam entreabertos. O sono profundo com pequenos pontos coloridos, que alcançam os cômodos do quarto. É a morte, ela ousa e não avisou sua chegada. De longe, uma vastidão azul. O dia de ontem.
Ontem, morri olhando para o mar. Foram segundos, diferente da eternidade. O mar estava limpo, azul. Traçados negros cortavam o céu, eram bailarinas- eram urubus. Neste angulo, não se pareciam com bichos nojentos, comedores de lixo.
Acompanhei aquele pequeno espetáculo dançante, pareciam que eles me acompanhavam, seguiam a morte.
Atravessei a passagem sem torna-me humana. Sem o gosto, sem o gozo, sem a plenitude. Atravessei e gostei. A morte era doce e a vida doía meus pés.
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Poema Tirado de uma Notícia de Jornal
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(Manuel Bandeira)
Água e Óleo. Goiabada com queijo. Jornalismo e Literatura.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Dia
O barulho da sala de espera mistura-se com a dor da saudade. Ela não queria pensar muito no assunto e preferia está em casa descansando. Chegou atrasada. Seu nome não era chamado. O local cumpria o papel que lhe era atribuído. Sua cabeça latejava e as conversas não a interessavam, diálogos de doença, remédio e dor. A sala tinha vários sofás e uma decoração familiar. Fazia um calor e a água não estava à vista. As plantas artificiais cobriam a sua visão, não conseguia saber quem estava do outro lado, só enxergava os pés impacientes de uma mulher. Que lástima! A TV não estava ligada, sua frívola programação serviria para passar o tempo. E nada de seu nome. A espera é a pior ocupação. É o ócio das ações. É permanecer intacto, é a dor de cabeça. Desistiu. Desistir era fácil. Mais tarde seguiria para o trabalho. Duas horas, dois meses, eternidade. O som do teclado é o único zunido no seu ouvido. Tem também a voz daquele rádio, daquele cidadão que já não está mais lúcido. Enquanto as imagens fortes predominam, o pensamento está naquele que fala coisas bonitas. Frases e atos. Ela volta para a cena vermelha.
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Caminho das borboletas
domingo, 13 de janeiro de 2008
Telefone
Ele: Mas você vai me ver daqui a dois dias!
Ela queria que ele dissesse que também sentia a sua falta.
Ela disse tudo bem. Ele disse, eu não quero mais brigar, então beijo e tchau. Ela disse tchau. Cinco minutos depois, ela recebe uma mensagem: Seu saldo é R$ 15,00. Ela liga de novo.
Ela: Liga a tv, está passando aquele filme que você disse para eu assistir.
Ele se animou e falou para ela ir logo assistir.
Ela disse que já estava indo e perguntou do almoço.
Ela: A sua mãe fez aquele empanado de frango?
Ele: Com brócolis e feijão verde.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Mordidas
Qual é a definição se não a fofura.
Mordo!
Entre os dentes, carne humana.
Eu estou olhando sem controle, vou à direção certa, meus olhos não piscam.
NHAC! A parte roxa ainda está na pele mordida.