segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Eu não tenho malícia

Eu era estagiária da Gazeta de Alagoas, quando preparei uma pauta sobre um projeto da prefeitura de Maceió que garantia às pessoas de baixa renda do vestido de noiva até o caixão. Lembro da reclamação da repórter ao chefe de reportagem quando recebeu a pauta: “que chapa branca essa matéria!” Ao escrevê-la, nem passou na minha cabeça uma matéria para enaltecer a prefeitura.

Pensei nas histórias interessantes e até inusitadas que a repórter poderia encontrar ao entrevistar as pessoas que necessitam de uma ajudinha até em momentos tão singulares, como a hora do sim e a hora da morte. Alguns devem pensar: “ela é estagiária, ainda não tem a malícia do jornalismo”. Hoje, eu percebo, eu não tenho malícia mesmo. A malícia daqueles que acreditam que notícia para ser notícia precisa de um fator negativo. Percebi o quanto isso é constante no meu Estado ao sair dele. Assisto, diariamente, ao jornal do grupo RBS (Globo gaúcha) e elaborei duas suposições: a primeira foi achar que o Rio Grande do Sul não tinha defeitos. Poucas eram as notícias de violência no Estado. Alguns casos isolados eram mostrados como flashes que se perdiam nas notícias positivas.

A segunda suposição, que eu acredito ser a verdadeira, é que o jornalismo da RBS é que enaltece, demasiadamente, o Estado e prefere não chamar tanto a atenção para os problemas daquele lugar. Foi ai que eu percebi a diferença de Alagoas para o Rio Grande do Sul. Incrível, como em Alagoas é fácil encontrar alguém que aponte defeitos. Ah, os políticos usineiros! Ah, o analfabetismo! É impressionante também como é fácil encontrar um gaúcho orgulhoso de seu passado (A Guerra da Farroupilha não foi uma batalha perdida? Quem lembra?). Não que o estado do Nordeste não tenha problemas e o do Sul não tenha qualidades, por favor! A questão é a autoestima de seus maradores. Se o efeito do jornalismo é causa ou consequência do pensamento dos moradores ainda não descobri.

Eu, como alagoana morando temporariamente no Sul, queria que o 8 se encontrasse com o 80 e formassem um 45? Mas, devo estar errada porque, mais uma vez, eu não tenho malícia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ah, a experiência que nos enriquece. Parabéns por refletir e nunca se acomodar, amiga. É isso que move o mundo. Saudades...

Anderson Santos disse...

Também sou alagoano e moro no Rio Grande do Sul há quase sete meses. O jeito dos oriundos da República Rio-Grandense é algo espantoso. Que diga este dia 20, em que é feriado em comemoração a uma Revolução que não ocorreu. Já participei de discussões numa disciplina do Mestrado sobre o fato de, por exemplo, nos estádios de futebol não se cantar o hino do Brasil e fazê-lo a plenos pulmões no caso do hino local.

Sobre Alagoas, bem, parece que os problemas são tantos que não fazem a população partir para uma resposta efetiva e sequer para abrir nossos olhos para as coisas de lá. Passei por lá na semana passada e não faltam coisas boas - vide praias, que os gaúchos mal sabem o que são.