Eu era estagiária da Gazeta de Alagoas, quando preparei uma pauta sobre um projeto da prefeitura de Maceió que garantia às pessoas de baixa renda do vestido de noiva até o caixão. Lembro da reclamação da repórter ao chefe de reportagem quando recebeu a pauta: “que chapa branca essa matéria!” Ao escrevê-la, nem passou na minha cabeça uma matéria para enaltecer a prefeitura.
Pensei nas histórias interessantes e até inusitadas que a repórter poderia encontrar ao entrevistar as pessoas que necessitam de uma ajudinha até em momentos tão singulares, como a hora do sim e a hora da morte. Alguns devem pensar: “ela é estagiária, ainda não tem a malícia do jornalismo”. Hoje, eu percebo, eu não tenho malícia mesmo. A malícia daqueles que acreditam que notícia para ser notícia precisa de um fator negativo. Percebi o quanto isso é constante no meu Estado ao sair dele. Assisto, diariamente, ao jornal do grupo RBS (Globo gaúcha) e elaborei duas suposições: a primeira foi achar que o Rio Grande do Sul não tinha defeitos. Poucas eram as notícias de violência no Estado. Alguns casos isolados eram mostrados como flashes que se perdiam nas notícias positivas.
A segunda suposição, que eu acredito ser a verdadeira, é que o jornalismo da RBS é que enaltece, demasiadamente, o Estado e prefere não chamar tanto a atenção para os problemas daquele lugar. Foi ai que eu percebi a diferença de Alagoas para o Rio Grande do Sul. Incrível, como em Alagoas é fácil encontrar alguém que aponte defeitos. Ah, os políticos usineiros! Ah, o analfabetismo! É impressionante também como é fácil encontrar um gaúcho orgulhoso de seu passado (A Guerra da Farroupilha não foi uma batalha perdida? Quem lembra?). Não que o estado do Nordeste não tenha problemas e o do Sul não tenha qualidades, por favor! A questão é a autoestima de seus maradores. Se o efeito do jornalismo é causa ou consequência do pensamento dos moradores ainda não descobri.
Eu, como alagoana morando temporariamente no Sul, queria que o 8 se encontrasse com o 80 e formassem um 45? Mas, devo estar errada porque, mais uma vez, eu não tenho malícia.
2 comentários:
Ah, a experiência que nos enriquece. Parabéns por refletir e nunca se acomodar, amiga. É isso que move o mundo. Saudades...
Também sou alagoano e moro no Rio Grande do Sul há quase sete meses. O jeito dos oriundos da República Rio-Grandense é algo espantoso. Que diga este dia 20, em que é feriado em comemoração a uma Revolução que não ocorreu. Já participei de discussões numa disciplina do Mestrado sobre o fato de, por exemplo, nos estádios de futebol não se cantar o hino do Brasil e fazê-lo a plenos pulmões no caso do hino local.
Sobre Alagoas, bem, parece que os problemas são tantos que não fazem a população partir para uma resposta efetiva e sequer para abrir nossos olhos para as coisas de lá. Passei por lá na semana passada e não faltam coisas boas - vide praias, que os gaúchos mal sabem o que são.
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