quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Eu quero férias de mim!

Andar nas ruas sem o tráfego, acompanhar o movimento do vento. Não quero falar de incertezas, angústias e amor. Quero pensar na camada fina, a mais profunda me enlouquece e ela transpira insanidade. Não quero os olhos molhados, a cabeça explodindo e o pensamento em você. Fantasias percorrendo minhas veias. Quero encontrar as ruas vazias, quero pensar no meu cabelo e nas minhas unhas. Eu quero o óbvio, o patético, o predestinado. Eu quero a solução, a resposta, a saída. Não quero sentir o gosto do ser profundo e ilimitado! Eu sou um sigilo, uma porta trancada, as chaves estão num lugar muito alto e você busca encontrá-las, mas quando se aproxima, o sigilo esconde as palavras bem longe dali. Eu sou a busca do grito. O ser humano e o seu significado, signo, sigilo. Você está cansado, eu entendo.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Lugar nenhum

Então
É isto
Tempo
Teria dito a você
Pedaço
Por pedaço
Até que a paz
Ecoasse

Ninguém
Nada
Nada
Ninguém
Podia fazer-me sentir
O modo que eu estou sentindo
Ninguém

Mãos
Deixe-me segurar você
Olhos
Deixe-me ver seu rosto
Sorria novamente
Como o mundo
Vá caindo

Existe
Em nenhuma parte
Eu prefiro gastar
Estes dias loucos preguiçosos
Então aqui
Em nenhuma parte



(Aqualung)

sábado, 1 de dezembro de 2007

FELIZ COTIDIANO


CORAÇÃO

Liz acordava com olhos grudados que pareciam não querer abrir. Mais um dia! Ela pensa. Com cabelos assanhados, se olha no espelho. Que cara de acabada. Cadê o café! Exclama para si mesma, como se alguém fosse responder com um sinal positivo. Porém, está só, quer dizer, está com seus pensamentos e esses eram ótimas companhias. Toma o café amargo com torradas e prepara-se para o banho, sua cabeça está longe da rotina. O mundo vive em seus pensamentos. A cabeça de outros, as decisões indecisas e as palavras arrependidas. O mundo é um pequeno detalhe, onde precisar respirar é difícil e requer longos espaços de tempo para voltar a respirar e prosseguir. Às vezes esse tempo era interminável. Quando olhar pra sua própria face era insuportável. O que é uma auto-estima? Quando o sentir é menosprezível e a vontade de viver encerra-se com a tentativa de respirar.

PÉS

Acordar, levantar e trabalhar. Tudo começa cedo e a hora é esmagada pelo tempo. Os jornais não podem parar de circular. Pauta 1, pauta 2, pauta 1000. Todos os dias eram preenchidos com informações e correrias em busca da “verdade”. Ah! Era tão bom ser jornalista! Poder viver os fatos e deixá-los percorrer pelas mãos, atingindo os dedos e fluir para o teclado. Letras, frases e matérias. Liz se arrepia só de pensar.


MÃOS

Escrever, pensar, pensar, escrever e imaginar. Sentir! Letras que se transformam em palavras que dão vida a uma opinião. Que bela expressão. Opinião! Perceber o mundo em volta e torná-lo perceptível a quem ler. Procurar detalhes minuciosos que transformam situações. Gestos, olhares, sorrisos. Ser sensível. Liz era sensível. Aos sentimentos dos outros, as situações, a lugares, a uma formiga que passa ao seu lado, ao por do sol, mas quem não é? Momentos que te fazem parar e refletir. Sentir-se anestesiado. Ela já tinha ouvido nas boas aulas de Estética que isso se denominava Flash Aesthesis.


CABEÇA

Liz era feliz em ser anestesiada e em saber que os olhos grudados e os cabelos assanhados iriam voltar no outro dia e no outro dia e no outro dia. Junto com o mais fantástico acontecimento de sua vida: o pensar.