quarta-feira, 24 de março de 2010

Impressão, primeira

“A vida inteira espremida numa mala de mão"....

...tentaria levar o mundo na mochila jeans escuro. Poucos dias e já se identificou com os sotaques diferentes do seu. Era tudo muito bonito, o cenário dos seus sonhos: poluição sonora e visual na cidade que nunca dorme. A paisagem da janela brotava prédios cor cinza que combinavam perfeitamente com o céu. Sempre parecia que ia chover naquela cidade, mas o guarda-chuva não era um dos acessórios na mala pequena. Não se preocupou, até porque não saiu muito naquele primeiro dia. Um medo esquisito confrontava com a liberdade do dia anterior. Decidiu espiar apenas pela janela aquele pedaço de mundo que não era seu. Ganhar o mundo não fazia parte dos seus planos. Diferente do planejado quando criança. Alguma coisa tinha mudado. Chorou ao lembrar-se do mar cor de céu azul. Límpido e transparente. Lembrava então do poeta das aulas de literatura: “Minha terra tem palmeiras,onde canta o Sabiá; as aves, que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá".

Um comentário:

silvioafonso disse...

.

Por aqui até gorjeiam, mas cantar
no seu próprio poleiro tem outra
dimensão. Tem cheiro da terra, de
água descendo a serra. Da fruta
que amadurece no pé e daquele café
colhido, torrado e moído passado
em coador de pano. Cheiro de broa
assada em forno de lenha. Mugido
de gado comendo na baia e o cantar
do galo em cada amanhecer.
Gorjeou o pássaro errante. Gorjeiam
os parentes, os amigos. Gorjeia
a sabiá, um canto triste. Canta a
liberdade da roça na gaiola em uma
cidade distante.

silviofonso.



.