terça-feira, 25 de novembro de 2008

No anverso do poema

Ao escrever um poema, o anverso procurou espaço para a definição do ser. Escrevi ao avesso aquilo que eu sinto. Ele não entendeu. Como entender aquilo que eu não entendo? O anverso permaneceu em branco, como deve ser.

Anverso: silêncio no branco do papel.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

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Fotojornalista em ação nesta quinta-feira.

domingo, 16 de novembro de 2008

Dólar

A pequena casa tinha um pé de cajueiro no jardim. Vista de longe, era igual às outras moradias do sítio Boa Vista, zona rural de Palmeira dos Índios. Ali mora Vandete Maria de Sena, uma jovem de 25 anos, que apesar da pouca idade tem uma olhar sofrido e uma história trágica para contar. Ao avistar o carro de Reportagem, ela ficou muito nervosa e demonstrou timidez. Ao seu lado, encontrava-se sua irmã, Luísa Maria de Sena, 30, que estava de visita. Vandete mora sozinha, seu marido Damião passa meses tentando melhores condições de vida em São Paulo. Mas ela não costumava ficar sozinha em casa, tinha um companheiro para a sua solidão, seu irmão Josuel Rufino de Sena, jovem de 17 anos, chamado carinhosamente por Dólar.
Alguns minutos após a nossa chegada, Vandete, um pouco mais relaxada, relatou o trágico dia 20 de maio deste ano. Era manhã, Josuel acordou e, como de costume, foi logo encher as garrafas de água para sua irmã. Já na hora do almoço, Vandete estranhou o sumiço do irmão e foi procurá-lo. "Encontrei o Dólar sentado em baixo de um pé de pau tomando cachaça. Ai eu disse para ele: ‘Oh Dólar, vamos para casa’, e ele abaixou a cabeça". Dólar não voltou para casa, foi até a roça de um vizinho e ingeriu meio litro de um agrotóxico muito utilizado por trabalhadores rurais da região para o controle de pragas, o Tamaron.
Dólar foi carregado num carro de mão pelos vizinhos até a casa dele e de Vandete. Os amigos da família arranjaram um carro e o levaram para a Unidade de Emergência em Arapiraca, mas não teve jeito. "O doutor falou que ele tomou veneno demais". Luisa conta que estava em casa, arrumando a cozinha, quando soube da morte de seu irmão pela rádio da cidade. Ao achar a foto 3X4 de Dólar, que estava escondida na gaveta da sala, Vandete se emocionou. Ela disse que mantinha a fotografia longe de seus olhos para evitar a saudade e uma dor grande no peito. "Quando nossa mãe morreu, eu não tinha nem dez anos, a Luísa foi morar em Palmeira dos Índios e eu continuei aqui para cuidar dele como um filho". Dólar era um jovem bonito, os olhos castanhos claros chamavam atenção na única lembrança que restou para a família. "Ele era o mais bonito", disse Luisa, que não entendia porque o jovem ainda não tinha uma namorada. "Ele era muito tímido", respondeu Vandete. A família Sena era composta por onze irmãos, onde Dólar era o caçula. Ele foi o sétimo a morrer, só restaram quatro.
As irmãs não esconderam que o adolescente era o xodó da família, todos o adoravam. Dólar estudava, tinha amigos e gostava de assistir à televisão deitado no sofá, adorava desenhos, era uma criança grande "Ele era um menino muito bom e trabalhador, limpava o mato na roça para conseguir dinheiro, ganhava um real e dividia comigo", lembrou Vandete. Josuel conheceu de perto casos de suicídios na sua família, dois de seus primos se mataram. "Ele (Josuel) era criança, mas se lembra das mortes". O pai de Dólar, Antonio Pedro Rufino de Sena, é alcoólatra e não tinha um bom relacionamento com os filhos. Aos 15 anos, Dólar, em uma discussão, furou o olho do pai, que estava bêbado, com um pedaço de madeira. Por isso, o estudante passou onze dias preso. Luísa acredita que a presença problemática do pai pode ter feito Dólar pensar na morte. “Ele ficava revoltado com as atitudes do pai, foi culpa do nosso pai a morte do Dólar. O pai não era uma pessoa boa, bebia muito”, desabafou. Ouvindo a irmã, Vandete permaneceu calada e apenas disse. “Não foi culpa do pai não. Foi culpa de ninguém, ele fez isso porque estava bêbado. Não sabia o que estava fazendo. E eu acho que ele tomou o veneno pensando que não ia morrer”.
Dólar reclamava do ócio daquele lugar. Foi assim com os três jovens que se mataram ano passado, João Henrique, Vinícius e Thiago e, infelizmente, poderá acontecer com qualquer jovem, inclusive com o irmão de Dólar, José, 19 anos. “Qualquer dia eu faço pior”.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Achado

Ao deparar-se com livros, ela pregou algo mágico nas mãos e prosseguiu sozinha pela rua. Viu o céu aberto escorrendo como um longo sorvete de pistache com baunilha e cobertura derretida. Buscando as palavras daquilo que já estava dentro, procurou olhares significativos e mãos molhadas de uma alegria misturada com desejo e com um pedaço de talvez. Pensou três vezes antes de falar para ter certeza que as palavras não preencheriam um espaço vago de incompreensão. Ficou calada.

.....

Na procura da busca achou a palavra escrita.

Olha,

Devo cruzar o meu olhar, e sem pedir licença, olhar fixamente sem cessar.
Devo falar com o seu olhar e dizer poemas disfarçados de bom dia!
Devo perguntar como ele está, será que dormiu bem esta noite e como foi o seu dia.
Devo esperar pelas respostas sem perguntas?
Não, não devo.