"Quase sempre a lápis em pedaços esparsos de papel, seguindo o curso aleatório de meus devaneios ou de minhas caminhadas" "O narrador é um ser feito de palavras, não de carne e osso, como os autores tendem a ser"
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Máquina de escrever
Andava distraída, sem saber o que lhe esperava na segunda esquina, entrando na terceira porta. Andava apressada, parecia que os minutos evadiam-se como o suor grudado no pescoço. Movimentava a boca, numa contração involuntária - movimentos bruscos e coordenados. Pensava em nada. Um nada cheio de vazio. Tinha fome. Dobrava a primeira esquina, olhar taciturno, sem grandes expectativas. Tênis gasto apertava o calo que ardia a pele. Aquilo lhe dava prazer imenso. Prazer da carne encravada. Avistou a segunda esquina, entrou na terceira porta. Parou no cartaz que dizia: Vende-se Máquina de Escrever. Seguiu em frente. O nada dos pensamentos se ocupou com a imagem. Retrato de uma máquina – não lavaria, nem passaria. Escreveria. Desfiava palavras num espaço em branco. Riscos negros contariam pensamentos. Assustador, intrigante. Máquina – humana, perecível. De escrever – de fantasiar, de acordar para dentro. Apressou o passo. A máquina lhe proporcionaria pesadelos, infinitos sonhos sem respostas. Não estaria preparada para ela. Ela era um mistério, que não poderia desvendar. Virou a terceira esquina. Deparou-se com livros.
domingo, 7 de setembro de 2008
Vista do alto
Um grande silêncio invade a janela. O silêncio estável-permanente. Tudo parece calmo e tranqüilo. Vistas do alto, palavras seguem em fileiras. Estão arrumadas, compostas de certezas. Vejo a formação de adjetivos gritantes. Com suas interjeições vibrantes. Elas me saúdam, um cortejo sem fim. Passam e não param. Em seguida, as vírgulas, elas e seus momentos. Pausas sem fim. E tem um fim. Não aqui. Os pontos não são para mim. O final ainda está no começo. Há aquela que é uma pergunta. Nunca serei igual a ela. Ela é única, assim como a dúvida. Nunca seria a resposta. Elas são claras demais e por que não dizer objetivas em excesso. Talvez os dois pontos.Sim, claro! Depois dos dois pontos vem a incerteza. E com ela, o sentimento de ânsia, de desprezo, de verdades ou mentiras. O que vem depois de dois pontos? Minha vida são dois pontos:
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