sexta-feira, 28 de março de 2008

Solidão dois em um


... e tinha uma vontade de fechar bem os olhos e não pensar mais em nada.

Ali, no escuro, poderia sentir o toque dos seus dedos percorrendo o corpo encolhido.

Sem palavras, entregava-se ao silêncio. Ao abrir os olhos, admirava-se com as pupilas cor de mel.

Poderia deixar tudo para depois, nada mais importava, só aquele balançar de cílios.

Vestia-se em comoção, em toda a sua vida enxuta, esperou aquele momento. Encharcada, sentia-se transparente.

Com os pés apoiados nos dele, calmamente, tentaram prosseguir, e foram ao chão.

Olhava-se no espelho e via uma alma branca e pura, uma alma.

Esperou um instante..

Ao se dá conta que estava só, chorou mais uma vez...

quinta-feira, 6 de março de 2008

A passagem



Eu ainda não sou humana. Traduzo um estranho sentimento, que poderia ser chamado de dor ou principio da morte. Ao adormecer, os olhos continuam entreabertos. O sono profundo com pequenos pontos coloridos, que alcançam os cômodos do quarto. É a morte, ela ousa e não avisou sua chegada. De longe, uma vastidão azul. O dia de ontem.

Ontem, morri olhando para o mar. Foram segundos, diferente da eternidade. O mar estava limpo, azul. Traçados negros cortavam o céu, eram bailarinas- eram urubus. Neste angulo, não se pareciam com bichos nojentos, comedores de lixo.

Acompanhei aquele pequeno espetáculo dançante, pareciam que eles me acompanhavam, seguiam a morte.

Atravessei a passagem sem torna-me humana. Sem o gosto, sem o gozo, sem a plenitude. Atravessei e gostei. A morte era doce e a vida doía meus pés.