segunda-feira, 26 de maio de 2008

Num espaço

Ela achava no espaço vazio a razão para seguir. Buscava perguntas e elas surgiam sem respostas. Queria passar o tempo, queria adivinhar. Queria nada. Não queria nada. Jurava que não. Poderia querer o cheiro, aquele dos olhos brilhantes. Era só isso.

Jurava querer o que todos queriam, jurava baixinho, só para ela, mas não queria jurar. Queria lê todos os livros e assim saberia que poderia saber, assim, sem querer. Mas querer, ela não queria. Jurava que não.

Não, ela não jurava. Apenas queria pouca coisa. Era justo. Coisa só dela. Ali, onde era vazio, seria só dela.

O vazio poderia completá-la, só o vazio. Que era só dela e não de ninguém. Assim poderia jurar. Jurar para ela o que seria só dela:

O vazio.



sexta-feira, 9 de maio de 2008

VIDA DE SURURU

Ponto de vista sobre a obra de Graciliano Ramos: Angústia

Cruzando a Praça dos Martírios, surge à angústia de Luís da Silva, personagem de Graciliano Ramos num romance de linguagem densa e existencialista. O personagem vive a devanear o desejo de uma mulher, ao mesmo tempo em que sobrevive ao purgatório que é sua existência. Luís da Silva poderia ser o retrato da classe média alagoana da década de 30: servidor público, que vive a pedir emprestado cruzeiros para os amigos. Homem que fala mal do governo ao mesmo tempo o serve.

A vida seguia normal, casa- repartição pública - trabalho no jornal - leitura de romances efêmeros. Tudo seguia a ordem, até reconhecer Marina. Ar, mar, rima arma, ira, amar. A vizinha mexeu-lhe os nervos e assim ela está presente nas primeiras páginas do romance, como nos pensamentos carnais de Luís da Silva, já que não se pode falar de amor.

Luís da Silva não casou com Marina, então a loucura transpareceu o personagem, o mundo é o imaginativo de seus pensamentos, nada mais é real. Fatos se misturam com devaneios, mas é fato que sua amada o traiu e a partir deste ponto, que ele obcecado, mata seu rival, aquele que seduziu sua mulher. Lembranças de personagens da sua infância confundem-se com os do presente. Seus medos, fraquezas, sangue, ódio e morte, tudo toma o pensamento de Luís da Silva. O personagem já não mais vive. "vida de sururu. Estúpida".

Ao ler as 227 páginas de Angústia, o leitor sente-se literalmente angustiado. Todo o peso escuro e grosso do coração do personagem é passado para aquele que o acompanha, aqui está uma leitora que teve pesadelos com as letras e frases sujas de piche.