quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A pequena


Hoje comprei um doce, mas não era simplesmente um doce, daqueles que ostentam beleza sem nenhum gosto. O meu doce tinha conteúdo, era uma mistura de chocolate ao leite com creme e para completar tinham um bombom em cima, engrandecendo sua gostosura. Não me aguentei, comecei a comê-lo no ônibus mesmo, indo para casa. Quando meus olhos se deliciavam com aquela pequena porção dos céus, uma garotinha entrou no coletivo. Ela era tão pequena que quase não aparecia no meio daquelas pessoas apressadas para chegarem ao seus destinos. Tão pequena e tão falante, começou a cantar para que sua altura não passasse despercebida por todos. Pedia dinheiro, umas moedinhas serviam. Ficou logo do meu lado e do doce. Ao falar, seus olhos estavam atentos para o público distraído, mas uma coisa lhe chamou a atenção. Era o doce. Ela não mais prestava atenção nos futuros ajudantes, somente no meu doce. Quando percebi a cena, já comecei a fechá-lo para poder entregá-la. Só seria mais um doce para mim. No momento que perguntei se ela queria, seus olhos se fixaram aos meus. Parecia não acreditar, agarrou aquele presente com toda sua pequena força. No espaço de poucos segundos, ela saiu correndo. Correu como se estivesse fugindo da morte. Com um brilho nos olhos, a pequena saiu do ônibus, com ele quase em movimento. Só consegui presenciar o sorriso estampado na pequena face e no meu rosto também.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A cada desencontro

Ah! Lá vem aquela criatura, passa por mim e ainda pronuncia meu nome. Mudou a expressão do rosto, ela está sorrindo!? Como pode? Depois de dizer para ele, que eu não serveria. Duvidou do que eu sou, ela nem me conhece, como ousa?
Sorrir e gesticula. Meus ouvidos fingem que escutam, meus olhos permanecem atentos aos dela, minha voz cala-se. Como ela consegue? A falsidade é um dom para poucos. De repente, sinto um vento frio, não é lá fora, é aqui dentro, meu coração está petrificado. A cada encontro, a cada desafio.
- Olá garota!
(Ah! realmente ela tem o dom)
- Olá.
Com ponto, sem exclamação.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Inconstância

As palavras ficam presas na garganta. Dor insuportável! Deixar você ir, seus passos são pesados e a cada passo, uma dor rasga meu peito. Você não ficou, saiu apressado e não ouviu meu choro de angústia, era medo, era receio. Estou perdida, desabafo minhas frustrações e você me abraça e transparece força. Preciso disso para continuar. Espero a sua verdade, ela vem e me machuca. Como você consegue enxergar cada detalhe do que eu sou? Dilema. Olho todos, as ruas são iguais, uma paisagem, um quadro faltando acabamento, faltou a cor. Preto e branco. 3X4. Falta um pedaço, a parte principal, falta a poesia, mas ela está em mim, quando não ultrapasso a minha calma. Ela está na beira e pode pular. Passos lentos. Ela errava tanto e queria uma máquina que lavasse seus erros. Que deixasse branco o vestido preto. Ela queria o sol, a noite ofuscava os seus olhos. Ela queria você, somente você.

domingo, 18 de novembro de 2007

1 ano



Será que te mudei durante este ano? Seu sorriso aberto ainda está lá, teu beijo provocante e teus olhos como uma presença me observam. Teu corpo é uma continuação do meu. Tua voz, Ah tua voz, grito da alma, desperta os desejos e anseios por tuas palavras. Teu cheiro, tua saliva, teus dedos, teu sentir. Toque no infinito, toque em mim. Acordei para ti e para mim. Amo-te.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Anos e Anos



A sensação muda
O ambiente se transforma
E eu aqui neste cantinho
escrevendo neste papel...
Esperando, atuando e, principalmente
sonhando.
Vai, acorda! Toma café, engole o choro e
Vive.
Amanhã, você escreve mais e risca
estas linhas tortas.


Minha fome = Minha vontade = Existência = Essência= Exagero=Hipérbole=Paixão

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O Jornalismo

(Fatos reais)

O chefe: Não é possível! Vocês não conseguem entender que este site precisa de acessos.

Economista: Os acessos trazem patrocinadores.

Editora chefe: O problema está na nossa linha editorial, não concordo que toda vez que alguém morre na cidade, temos que mobilizar a redação toda. Cada jornalista tem sua especialidade. Temos que usar o potencial de cada profissional.

Editora de cultura: Concordo plenamente. Eu estava fazendo uma matéria cultural, quando tive que parar tudo, para ir atrás de um corpo.

O chefe: Não querendo desmerecer o seu trabalho, mas cultura, NÃO DÁ DINHEIRO. Enquanto temos mais de cem acessos com esse corpo, uma matéria cultural tem apenas cinco.

Editora chefe: mas, nós como comunicadores, temos que fazer o diferencial. Temos que apresentar um algo mais para a população.

O chefe: Mas, esse algo mais, NÃO PAGA O SEU SALÁRIO! Precisamos de dinheiro para manter o site.

Economista: Um site é feito por patrocinadores que exigem acessos.

O chefe: Por isso, vão atrás do morto, que é ele que paga o salário de vocês.

editor de política: Calma, veja o meu exemplo, fui cobrir um show, para o caderno de cultura, e esse evento acabou em pancadaria e até morte. Lógico que no final deu uma ótima matéria policial.

O economista: E tem que ter muita foto e vídeo com sangue.

O chefe: Se for assim, tudo bem!

Editora Chefe: o papel do comunicador não é esse, temos que MUDAR O MUNDO!

O chefe: Tenta mudar o mundo sem salário, tenta.

E o silencio toma a sala. Quem será que está certo?

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Na casa


Diferenças e semelhanças fazem. Fazem-me. E para elas também. Entender o que está acontecendo na casa. Na casa cabem cinco, porém cinco mundos distintos que se cruzam e se repelem. Elas querem assim, eu quero de outro jeito. Guerra? Não. Silêncio. Infelizmente o silêncio é o melhor caminho. Portas trancadas para as palavras, mas não sou complexa, sou tão fácil. Às vezes, parece que me odeiam, pior, desprezam-me. 3 em 1. Uma solitária. Prefiro assim, a solidão dos meus pensamentos. Não julgo, não acho diferenças, mas a separação é compreensível.
2 de um lado e 1 no outro. E assim é mais fácil. Desculpe-me qualquer coisa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Mariana era diferente

- Mari, olha só que cabelo desarrumado o seu, amiga!

- A Mari é assim mesmo!

- Assim como? Alguém podia me explicar?

A Mariana não era igual e também não era única. Poderia ser diferente das amigas.

- Mari, olha que gatinho!

- É, pode ser...

Definitivamente, Mariana era diferente.

- Mari, você é infeliz?

- Acho que sim. Sou tão diferente. Não penso e não sinto igual a vocês. Quero mudar!

- Primeiro deixa este cabelo crescer, lixa estas unhas e usa um pouco de maquiagem!

Passam os dias e Mariana está igual.

- Feliz Mari?

- Estou! Procurei um psicólogo. O Dr. Viana, ele é um máximo!

- Ah! Agora sim, você vai ser igual à gente. Conta como é lá?

- Olha só, no próximo dia, irei mostrar meus poemas e falaremos sobre artes.

- E quando você vai mudar?

- Não sei, só sei que é muito legal e estou me identificando com tudo.

E o silêncio toma as amigas.

- Minha gente, vocês viram o filme com aquele ator lindo e maravilhoso?

- Ainda não! Vamos todas!

E Mariana não entendia, não era para ela ser normal, a terapia não estava funcionando.

- E lá vou eu, chegando atrasada. O Dr. Viana não vai perdoar.

- Mariana Alencar?

- Sim, sou eu.

- Você chegou muito atrasada, vai ter que esperar mais meia hora.

- Tudo bem.

- Nossa! Como aqui está frio, não gosto de frio. Muito prazer, meu nome é Laís, e o seu?

- Mariana, prazer. Você veio para o Dr. Viana?

- Sim, claro. Ele é ótimo! Hoje vou mostrar todos os meus contos

- Eu também! Só que poesias. Olha só.

- São muito boas. Posso ficar com algumas, quero colocar no meu blogger.

- Claro, aproveite e anota o endereço dele.

- Aqui está. Prazer Mariana.

- Prazer.

E a noite, ela entra no blogger e lá está a sua poesia. Toda orgulhosa, ler e reler tudo. E comenta, com uma admiração por aquela nova pessoa que conheceu.

- Mariana, você tem que ir para esta exposição, vai ter recital de poesias e bandas experimentais.

- Ah, vou sim, Laís, mas nunca fui a um lugar assim.

- Não há problemas, lá estarão meus amigos, vou apresentá-los.

- Alô Mariana. É a Lia. Tudo certo para o barzinho hoje, não é?

- Sabe o que é Lia, estou morrendo de sono.

- Não acredito Mari!

- É sim, deixa para a próxima.

- Mari, você vai adorar meus amigos, eles são excêntricos e divertidos. Boa Noite, galera! Esta é a Mariana.

- Olá! Pode sentar, aceita um copo de vinho?

- Claro que aceito.

Já passava da meia noite, Mariana não quis ir para casa. A noite estava perfeita. Conversa sobre livro, cinema e poesia. Mariana sorria e sorria.

- Vamos todos para o meu apartamento! Lá tem mais bebida!

Em um momento da noite, Mariana estava olhando para Laís. Seus olhos se cruzaram numa força que elas não saberiam explicar. As mãos encostadas e o impulso era o magnetismo de suas bocas. Era paixão. E, elas, logo descobriram.

- Mari, você está feliz?

Agora sim, Laís. Agora sim.